CULTURA CORPORAL NA ESCOLA
LUTAS
"Aquele que nos combate, fortalece nossos nervos e aguça nossas habilidades. Nosso oponente é nosso colaborador." (Edmund Burke)
LUTAS: HISTÓRIA, DESENVOLVIMENTO E FINALIDADES
Aulas: 02 e 09.06.2017
A luta surge na Antiguidade dentro da Educação, como meio de desenvolvimento para a sobrevivência em batalha. No século IV, no Oriente, um monge ressignifica a luta, associando a ela técnicas de respiração, meditação, ensinamentos mentais e espirituais. Começa-se a pensar o corpo como um pólo energético, a valorizar também os animais e as forças da natureza, e a disseminar essa perspectiva. Com isso, além do significado de força, a luta passa a significar controle, passando a estar presente na Educação mesmo fora de locais e períodos bélicos. No século XV, surge na Inglaterra um tipo de luta sem filosofia, de exibição e cuja transmissão de técnica visa a obtenção de dinheiro como pagamento: os primórdios do Boxe moderno.
As concepções sobre luta são diversas, pois elas são fundadas em um determinado contexto social e histórico, mas são construídas pela cultura na qual se inserem. A luta tem a premissa de que os dois ou mais participantes envolvidos estão atuando simultaneamente. Por isso, lutas possuem códigos, regras e técnicas.
Hoje, vivemos a esportivização das lutas. Nesse conceito, as técnicas necessárias para a prática da luta são desenvolvidas para a eficiência de resultados, minorando a parte filosófica e artística, bem como o subentendimento dos códigos, visto que a luta esporte é globalizada.
Finalidades das lutas modernas: competição, defesa pessoal, condicionamento físico, profissão e forma de reduzir o estresse. As lutas são práticas corporais com dois ou mais participantes, cujo objetivo varia entre tocar, imobilizar ou desequilibrar o oponente, respeitando regras estabelecidas.
LUTAS NA ESCOLA: AINDA UM TABU PEDAGÓGICO
Aulas: 02 e 09.06.2017
Como educadores, nos deparamos com o desafio de ensinar luta na escola a fim de ampliar o repertório dos alunos quanto às culturas corporais. Para além do estigma de que lutas reforçam a violência, devemos pensar logicamente: ao renunciarmos a propor lutas na escola, desconsideramos que estas já podem estar inseridas na cultura do aluno (como na Briga de Dedo, Braço de Ferro, Briga de Galo, Lutinha entre amigos, em desenhos animados e filmes, etc.). Nenhuma prática corporal está desvencilhada do cotidiano cultural. Devemos pensar que abordar lutas na escola não traz somente a possibilidade de reafirmar tais práticas, mas também de possibilitar ressignificações e transformações.
O educador pode começar atribuindo significados às lutas que os alunos já conhecem, relacionando-as com as que aparecem em animações e filmes, fazendo um mapeamento. Depois debater as regras, falar sobre a história das lutas, mostrando textos e vídeos. Explorar os equipamentos (como luvas de Boxe, capacetes, etc.) e permitir que os alunos confeccionem com materiais recicláveis e seguros possíveis equipamentos e armas (como espadas feitas com papelão). Nos momentos de vivência com a luta, ensinar as técnicas mas também possibilitar aos alunos a criação de estilos de luta autorais (como se montassem novos katis de Kung Fu). E não esquecer de promover campeonatos que propaguem a prática a outras pessoas que poderão assistir a exibição.
Nesse contexto, o educador deve se preocupar quanto a escolha da proposta, equipamentos e formas de explicar as regras, de modo a proporcionar segurança e direito à participação de todos, independente das diferenças de corpos e gêneros dos alunos-lutadores. Toda proposta que é bem planejada e conversada com os envolvidos (alunos, demais professores e funcionários) tende a ser rica e a contribuir com o aprendizado da comunidade escolar como um todo. Vale ressaltar que, ao fim de cada tematização pedagógica, é imprescindível fazer um debate entre os alunos, problematizando questões, incentivando o desenvolvimento do pensamento crítico e cidadão.
VIVENCIANDO LUTAS
Aulas: 02 e 09.06.2017
Na discussão dos textos em aula, aprendemos mais sobre os diversos tipos de luta: desde as confundidas com brincadeiras, tais como Cabo de Guerra, Guerra de Polegares e "Ai Mãozinha", até as que requerem mais espaço, maior instrumentação ou maior preparo dos corpos, tais como as lutas que hoje possuem federações (Judô, Boxe, Luta Olímpica, etc.). Durante a vivência, comparamos as especificidades entre três lutas: Kung Fu, Taekwondô e Capoeira. Cada uma com origem em um país (China, Coréia e Brasil, respectivamente), com tradições milenares ou centenárias, e com objetivos distintos perante o oponente.
Enquanto a Capoeira faz investidas com as pernas e não toca no adversário, o Taekwondô utiliza também as mãos e a pontuação depende do toque. Enquanto o Kung Fu tem katis (estilos) com armas, o Taekwondô não usa armas mas usa hoje equipamentos de segurança (capacete, protetor de tórax, de perna, etc.), inclusive com detecção eletrônica de toque. E enquanto na Capoeira se usa roupa branca e cordões coloridos que determinam a habilidade do lutador, no Kung Fu a cor da roupa e a quantidade de faixas dependem do estilo e da escola que o lutador pratica.
Percebemos que as práticas corporais são atravessadas por marcadores sociais, culturais e de gênero. Cada sociedade em dada época precisou educar uma parcela da população para as artes da guerra, a fim de se proteger de povos inimigos e de ampliar territórios sob seu domínio. Por isso há enorme variedade de técnicas de luta, de estilos dentro da mesma modalidade, de equipamentos e finalidades. A implementação das nações, do capitalismo e da tecnologia na modernidade fez com que as lutas também se adaptassem para continuarem servindo a um fim social, passando até a servir a um fim individual, já que hoje as lutas são aprendidas por qualquer pessoa (sem precisar ser um guerreiro homem), em qualquer espaço (sem precisar ser num templo, por exemplo), sem filosofia de vida (muitas lutas foram esportivizadas), sem intenção de matar o oponente, e sim de cuidar da saúde e da estética do próprio corpo.
GALERIA DE LUTAS
(Registro em imagens da vivência com Kung Fu, Taekwondô e Capoeira, no Salão Nobre da Escola de Aplicação da USP, em 09.06.2017)
VÍDEO DE LUTAS
(Registro em vídeo da vivência com Kung Fu, Taekwondô e Capoeira, no Salão Nobre da Escola de Aplicação da USP, em 09.06.2017)